sábado, 22 de janeiro de 2011

Apesar de

"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."
(Clarice Lispector in "Uma Aprendizagem Ou O Livro Dos Prazeres".)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sagarana

Saragana (1946)
Autor: João Guimarães Rosa
Número de Páginas: 370
            Pertencente a última fase do modernismo, João Guimarães Rosa foi um escritor regionalista. Em seus livros, retratava o interior de Minas Gerais, a vida na roça. No livro que escolhi para ler não foi diferente. Na verdade, não foi bem uma escolha, pois era o único livro de Guimarães Rosa disponível, no momento, na biblioteca municipal daqui. Minha intenção era ler “Grande Sertão: Veredas” que, dizem, ser um dos melhores livros já escritos, inclusive, considerado o terceiro melhor do século XX pela Folha de São Paulo. Porém, fiquei com Sagarana.
            Assim, vamos ao livro que pude ler:
           Sagarana é um hibridismo (união de dois radicais de línguas distintas): “Saga” e “Rana” que significam, respectivamente, “conto histórico” e “semelhante à”, ou seja, “Próximo a uma saga” ou “Quase uma saga”.
            É composto pelos seguintes contos:
• O Burrinho Pedrês
• A volta do marido pródigo
• Sarapalha
• Duelo
• Minha Gente
• São Marcos
• Corpo Fechado
• Conversa de Bois
• A hora e vez de Augusto Matraga
         Em todos os contos há a majestosa descrição das paisagens interioranas, e da vida na roça, como já dito. Isso pode ser encontrado em qualquer análise da obra.
           Análises da obra... Em todas essas análises, é falado que os contos são alegorias, ou seja, fábulas que têm, no final, “a moral da história”. Sim, alguns contos de fato têm uma moral (não necessariamente no final), têm um ou outro trecho para refletir. Contudo, são contos muito longos para finais tão banais. Sempre li que o escritor não deve ter medo de cortar cada parte desnecessária de sua narração. Bem, não sei se isso é recente. Sendo ou não, se Guimarães Rosa houvesse cortado cada parte prosaica de cada conto, nenhum teria mais de 10 páginas.
            Não gostei desse livro. Pode, aos olhos de alguns, parecer sacrilégio e, de fato, possa sê-lo, pois uso como título do blog o título de um dos livros do modernista aqui em questão. Peço desculpas, sem culpa.
           O certo é que para cada opinião positiva há uma negativa. A minha é uma delas. E não foi a única, por exemplo, em “A Descoberta do Mundo”, livro de crônicas de Clarice Lispector, na crônica A Entrevista Alegre, na qual Lispector recebe uma entrevistadora em sua casa e, em certo momento, entre risos, esta pergunta o que Clarice achara do que Fausto Cunha, crítico, escrevera: que ambos, ela e Guimarães Rosa, não passavam de embustes. Ela disse que nenhum dos dois era. Riu. E disse que Guimarães Rosa riria também. Mas seria um riso descontraído ou nervoso por saber sê-lo?
         É cedo para dizê-lo. Talvez, como ainda era o início de sua carreira, o escritor não estivesse em seu extremo como autor. Ou eu não estava em um bom momento para ler esse livro. Ou apenas tenha superestimado demais o escritor. Contudo, que venha – espero que em breve – “Grande Sertão: Veredas”.


"E Santana toca, na mesma andadura, sem se voltar. Mas tornarei a vê-lo, sei. E é graças aos encontros inesperados dos velhos amigos que eu fico reconhecendo que o mundo é pequeno e, como, sala-de-espera, ótimo, facílimo de se aturar..."

domingo, 16 de janeiro de 2011

Dom Casmurro

Dom Casmurro (1889)
Autor: Machado de Assis
Número de Páginas: 209


 É realmente necessário escrever sobre Machado de Assis, considerado o melhor autor brasileiro? Ou Dom Casmurro, sua obra mais conhecida? O desnecessário são estas perguntas. Afinal, não deveria fazê-las para tentar começar uma resenha. Não obstante a isto, quem lerá esta resenha pode fazer as mesmas perguntas a si próprio mudando apenas o verbo “escrever” pelo verbo “ler”.
      Aí está a conhecida e tão necessária sinopse desse livro:
      Narrado em primeira pessoa, começa quando o personagem Bentinho, já com mais de 50 anos de idade, recebe a alcunha de Dom Casmurro. Já em sua casa – reproduzida tal qual a casa de sua infância –, começa a escrever a sua história. Tal missão não é apenas para tentar compreender a sua vida até aquele ponto, mas para compreender como realmente era a sua esposa, Capitu. E assim segue: mostra-nos um Bentinho moço e mimado. Tão mimado que se descobriu apaixonado por sua vizinha, Capitolina, após escutar uma conversa de adultos na qual os dois eram citados. Contudo, algo os impede de estar juntos: a promessa da mãe de Bentinho de ordená-lo padre. Não é segredo que eles conseguem livrar-se da promessa e casar-se. Têm um filho e, com ele, vêm os ciúmes.
      Estejam atentos: a história é do ponto de vista deste Bentinho mimado e, quando adulto, ciumento e compulsivo. Ele é o juiz e decide como cada personagem é mostrada.
      Machado de Assis foi muito perspicaz: Bentinho é um personagem construído magistralmente. Em momento nenhum, por ser ele quem narra a história, a retumbante pergunta nos é respondida: Capitu traiu ou não traiu?, Dom Casmurro é frágil e pode ser um psicótico ou Capitu, de fato, pode ser a dissimulada que seus olhos aparentam.
      É um romance realista psicológico, pois penetramos a fundo na mente do personagem principal, com minúcia nos é descrita cada sensação, cada sentimento por ele sentido. E isto pode ser enfadonho para uns tantos. Porém, há a – ótima – minissérie global Capitu que pertence ao – parece que, infelizmente, esquecido – Projeto Quadrante.
      Seja lendo a obra completa, ou apenas um resumo na internet ou, ainda, assistido a série ou a algum filme nela baseado, é de suma importância, não pode passar despercebida, porém, de fácil acesso. Assim você poderá responder a pergunta: Capitu traiu ou não?
     Para mim, traiu.

"Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar, tinha orgias do latim e era virgem de mulheres."

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   Começa:


        Ano de vestibular. Dou muita importância a isto, então, verei este blog como um treino antes da faculdade de Jornalismo.
       Primeiramente, este pretende ser um blog literário, com ênfase na crítica. Contudo, não sei prever o futuro e não sei aonde irei com isto.